Muitos de vocês já devem ter visitados museus onde vivem e por onde viajaram. No entanto, a grande maioria da população brasileira não sabe as funções culturais, científicas e sociais desses lugares.
Além de abrigar grande parte da história local e/ou do mundo, os museus também são locais que realizam pesquisas científicas (em diversas áreas) e o resultado disso tudo é a exposição e demonstração do valor desses materiais ao público externo.
Mas, infelizmente (por vários motivos), os museus estão sendo cada vez menos visitados. Em consequência desse descaso, no último domingo o Brasil viveu um triste episódio: o maior museu da América do Sul (e o quinto maior museu do MUNDO) estava pegando fogo.
Grande parte da história do Brasil e do mundo era queimada (Figura 1).
Figura 1. Museu Nacional em chamas. Foto: Globo.com
O museu foi a casa de Dom João VII e era chamado de “Palácio da Quinta da Boa Vista” e ali aconteceram fatos históricos importantes para o Brasil. Por exemplo, nesse local a Princesa Isabel nasceu e viveu, sim, a princesa Isabel que assinou a lei áurea que abolia a escravidão do Brasil.
Em 2018 ano o Palácio faz 200 anos, e depois se tornar museu, foram acumulados mais de de 20 milhões de materiais de todas as áreas das Ciências do Brasil e do mundo. A maior parte desse material foi perdido no incêndio (praticamente tudo).
Vamos destacar apenas uma peça aqui para que todos tenham a dimensão do estrago que essa tragédia culminou. A peça é o crânio de Luzia, o fóssil de ser humano mais antigo das Américas (Figura 2). Ele foi encontrado no ano de 1926, pelo pesquisador Padberg-Drenkpol, em uma gruta na região de Lagoa Santa em Minas Gerais. A expedição foi organizada pelo Museu Nacional. O crânio foi estudado por muitos anos e depois fizeram a reconstituição fácil dela e descobriram que Luzia morreu aproximadamente aos 20 anos e vivem entre 11.500 a 13.000 anos atrás.
Figura 2. Crânio e reconstituição facial de Luzia. Foto: UFRJ.
Como é um acontecimento recente, as causas do incêndio ainda estão serão investigadas pela polícia federal. No entanto, diversos avisos da administração do museu alertavam ao governo sobre possíveis acidentes. Para muitos era uma tragédia anunciada. A falta de investimento que desde 2015 despencou chegando a receber até o mês de abril deste ano, apenas 54 mil reais e isso iniciou uma verdadeira crise. O orçamento total para manter o museu em pleno funcionamento por um ano era em torno de 500 mil reais.
O segundo alerta foi dado em 2004 pelo secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do estado do Rio de Janeiro, “O museu vai pegar fogo. São fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade com o patrimônio histórico.” Atualmente ele comenta sobre a sua visita naquele ano, "Fiz uma visita e fiquei horrorizado com o que vi como engenheiro, por isso resolvi vir à público na época. Muita gente me criticou dizendo que eu estava dando opinião num assunto que não cabia a mim”.
O relatório oficial da Biblioteca do Museu de 2016 mencionava as situações difíceis que se arrastavam por anos. O relatório trazia mensagens como "O prédio da Biblioteca continua sofrendo com goteiras e infiltrações, principalmente na área de guarda do acervo". E ainda, "Há morcegos e gambás nos forros e ferrugens nos ferros expostos das marquises, convivendo servidores e usuários com plásticos pretos sobre estantes inteiras e baldes por praticamente todos os espaços, dejetos de animais sobre as paredes e estantes e o risco de gesso ou pedaços de concreto caírem sobre alguém ou equipamentos." Além disso, os cupins estavam arruinando toda a estrutura do museu. Deixamos dois links para vocês: o primeiro é especialmente para você que não conhecia o museu. Se trata de uma visita pelas principais partes do museu. O segundo, é o biólogo “Slow”, comentando sobre os impactos, causas e consequências do acontecimento.