Possivelmente você já ouviu em algum documentário ou filme alguns absurdos em relação a evolução humana. Mais precisamente sobre a presença, ausência e função de pelos nos seres humanos. Uma das “explicações” mais comuns para “justificar” a presença/ausência de pelos em determinadas partes do corpo humano é de que os humanos mais “evoluídos” não precisam de pelos, por isso eles não os tem. Logo, quem tiver pelos é um ser humano menos evoluído. Isso é uma completa besteira.
Os pelos tiveram funções cruciais em nossos ancestrais com por exemplo, esquentá-los, protege-los de insetos/parasitos, camufla-los (Figura 1). Na evolução biológica, tudo que provém vantagem para um animal (Lembra? Somos animais também) é passado adiante (hereditária). Deste modo, os pelos até hoje exercem funções interessantes. Um exemplo são as sobrancelhas: a função principal é evitar que o suor escorra diretamente para os nossos olhos. Mas por que temos pelos em determinadas partes do corpo e em outras não?
Figura 1. Os cabelos por exemplo, tem função de proteção mecânica contra o sol e principalmente, atração sexual. Foto: Getty Images.
Essa pergunta foi respondida, pelos menos parcialmente, por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia que publicaram um estudo na revista científica Cell Reports. O principal resultado mostrou que a “culpada” por não nascem pelos em determinadas partes do corpo é a molécula Dockkopf 2 (DKK2). Essa molécula é capaz de bloquear sinais e canais celulares responsáveis pelo crescimento de pelos (Figura 2). De acordo com uma das pesquisadoras do estudo, Sara E. Millar em entrevista para a revista Newsweek, "No estudo mostramos que a pele, em regiões sem pelo, produz naturalmente um inibidor que impede que as vias WNT façam seu trabalho. "Sabemos que a sinalização WNT é fundamental para o desenvolvimento dos folículos pilosos. Bloqueá-las deixa a pele sem pelos e ativá-las faz com que eles cresçam".
Figura 2. Esquema mostrando o crescimento dos pelos. Foto: Cultura Mix.
Além disso, o estudo destaca alguns pontos evolutivos relacionados ao crescimento de pelos nos animais e no ser humano. De acordo com o estudo, determinados animais que produziam DKK2 em partes específicas do corpo como por exemplo o peito, conseguiram sobreviver melhor que os outros em ambientes frios (por exemplo). Veja bem, nenhum animal “se adapta”. Ele simplesmente tem uma adaptação que o torna viável em certas condições. É a famosa frase “quem tem, tem. Quem não tem, não tem”. Outros exemplos claros são a ausência de pelos nas palmas das mãos e dos pés. No caso dos seres humanos, quem tinha pouco pelo nessas partes do corpo teve vantagem pois tinha mais agilidade para manusear armas de caça, correr e etc. Isso lhes conferiu vantagem evolutiva e passaram isso a diante. Até chegar em nós, “humanos modernos”. Isso mostra que ainda temos muitos traços físicos de nossos primeiros irmãos hominídeos (homens primitivos).