Muitas pessoas acham as aranhas animais perigosos e sem função alguma no planeta Terra. Mas isso é um engano. As aranhas são importantes para diversos ecossistemas terrestres.
Elas se alimentam de outros pequenos invertebrados ajudando a manter o equilíbrio da vida na Terra. Mas um fato interessante foi descoberto pela pesquisadora Amanda Koltz da universidade de Washington e outros colaboradores: a população das aranhas-lobo (assim conhecidas popularmente no Ártico) está aumentando por conta das elevadas temperaturas, pela emissão de gases do efeito estufa e pela destruição do Ártico causada pelo homem.
Individuo de Aranha-lobo cm seus filhotes em seu abdome. Foto: Amanda Koltz.
(link do artigo: http://www.pnas.org/content/early/2018/07/17/1808754115)
O fato descoberto acontecesse em cascata. Ou seja, um fato leva ao outro. O Ártico é uma região circular no norte da Terra. Nessa região as maiores temperaturas chegam somente a 10ºC negativos. Como o homem tem alterado o clima da Terra, nessas regiões está ocorrendo um aumento na temperatura fazendo com que as inúmeras camadas de gelo derretam.
Algumas dessas camadas de gelo estão fixas no solo e estão cheias de restos vegetais e pequenos animais mortos. Quando essas camadas derretem, esses materiais sofrem o processo de decomposição e esse processo pode emitir gases como o dióxido de carbono e o metano – gases do efeito estufa. Quando os fungos começam a decompor esses restos vegetais e animais, aparecem uns artrópodes chamados colêmbolos que comem esses fungos. E por sua vez, as aranhas-lobo se alimentam desses colêmbolos, delas mesmas (canibalismo) e de insetos menores que elas (lembre-se que aranhas não são insetos, aranhas são aracnídeos).
Baseado nesse cenário, Amanda Koltz criou vários miniecossistemas artificiais no extremo norte do Alasca para tentar compreender como as mudanças climáticas poderiam interferir nessas relações entre as aranhas-lobo e seus predadores. Ela e sua equipe monitoraram esses miniecossistemas durante dois verões e registraram como a temperatura e o número de aranhas mudavam o microambiente. Os resultados mostraram que nos miniecossistemas com maior quantidade de aranhas, elas comeram menos colêmbolos.
Assim, os colêmbolos ficaram com sua população maior e comeram mais fungos, diminuindo a decomposição dos restos vegetais e animais. Dentre os miniecossistemas com maior temperatura, os que tinham mais aranhas conseguiram decompor menos do que os miniecossistemas com menos aranhas. Assim, parece que as aranhas ajudam a reverter a mudança climática no Ártico. Além disso, em ambientes com maior densidade de aranhas elas optam por se alimentar delas mesmas ao invés de comerem colêmbolos.
Miniecossistemas criados para o estudo. Foto: Amanda Koltz.
De acordo com o entomólogo (profissional que estuda insetos) Joseph Bowden, "A novidade do trabalho da Dra. Koltz é que mostra que ela (a mudança climática) não apenas tem impactos diretos nesses importantes animais que habitam no solo, como também nas complexas interações ecológicas entre as espécies do Ártico/Tundra". Amanda e sua equipe ainda não descobriram o motivo pelo qual as aranhas quando estão em alta densidade perdem seu apetite por seu principal alimento, os colêmbolos. Só sabem que a população delas está crescendo.