Se você pensou que Serpentes a Bordo era um filme de ação improvável, você pode se surpreender ao saber que há alguma verdade histórica por trás dos eventos do filme. Ok, não exatamente como o filme, mas a história é bem interessante. As cobras pegaram caronas em aviões por mais de 70 anos, com consequências diabólicas para a vida das aves do Pacífico, principalmente no Havaí e nas ilhas da micronésia, como Guam. Novas pesquisas sobre o veneno das cobras revelaram que a ameaça às aves insulares é maior do que se imaginava anteriormente.
Guam costumava ter 14 espécies de aves nativas e nenhuma cobra. Na década de 1950, as cobras marrons, nativas da Austrália, foram avistadas na ilha e, a partir de então, as pessoas notaram que o número de aves começou a cair. Com o tempo, foi descoberto que as cobras estavam se escondendo nos trens de pouso dos aviões militares durante a Segunda Guerra Mundial. Saindo da Austrália, os aviões, carregando as cobras clandestinas chegaram ao Havaí.
As cobras marrons (Boiga irregularis) têm um veneno que, embora "não seja perigoso para os seres humanos, é 100 vezes mais tóxico para as aves do que para os mamíferos", disse Bryan Fry, da Universidade de Queensland, em um comunicado. Consequentemente, Guam agora tem três espécies sobreviventes de aves nativas. Não tendo encontrado uma cobra por milhões de anos, as outras aves não tiveram tempo de evoluir mecanismos de sobrevivência.
Aviões militares dos EUA voam frequentemente entre as principais bases em Guam e no Havaí, onde a rica vida das aves nativas não é tão familiarizada com cobras quanto a de Guam. Se uma cobra grávida, ou casal reprodutor, fizerem a viagem como os seus antepassados fizeram até Guam, as consequências serão terríveis. Fry disse que os aviões que pousaram no Havaí tinham cobras marrons no seu trem de pouso.
Cães farejadores de cobras foram colocados em ação para tentar pegar os clandestinos, mas Fry disse; "Nenhum método como esse será 100% eficaz".
Fry relata mais más notícias em um estudo do veneno de cobras marrons e seus parentes publicados no Journal of Molecular Evolution.
Ele e seus colegas descobriram que a molécula assassina de pássaros em seu veneno, formada a partir da união de duas toxinas menores, é muito semelhante àquelas de outras dezenas de cobras Boiga, não apenas a marrom.
A cobra da árvore marrom estava por acaso no lugar certo, na hora certa, para pegar uma carona durante um período conturbado. Embora a principal ameaça venha de Guam, se uma cobra do gênero chegasse ao Havaí de qualquer um de seus habitats na Ásia ou na Austrália, os efeitos poderiam ser igualmente ruins.
Fonte: IFLScience