Tenho certeza que você leu o título desse artigo e ficou sem entender nada né? Pois bem, vamos fazer uma analogia aqui. Pense que você esteja com um robô dotado de inteligência artificial e que estejam diante de um juiz que não consegue ver nenhum dos dois. O juiz precisa adivinhar quem de vocês é humano e quem é o robô (Figura 1). O humano vai viver e o outro vai morrer. Os dois querem viver e o juiz diz: "Cada um deve me dizer uma palavra que conste no dicionário de português. Com base nesta palavra, vou adivinhar quem é humano". O que você diria? Parece algo bem fantasioso, mas cientistas cognitivos usaram esse método em seus estudos para entender como a análise pode ajudar e esclarecer pontos básicos da inteligência artificial (IE).
Figura 1. A relação entre humanos e robôs ainda é pouco compreendida. Foto: Getty Images.
A IE está presente em nossas vidas em vários lugares, principalmente em forma de “chatbots”, aqueles robôs que simulam humanos em bate-papos online entre outros. Fato é que a IE é mais que uma perspectiva teórica em livros e apostilas. Já é uma prática. Pensando nisso, John McCoy, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), resolveu criar um experimento baseado em uma conversa com seus colegas. A discussão era sobre o Teste de Turing, criado para medir se o comportamento de uma máquina é equivalente a de um ser humano. De acordo com McCoy, "Nós nos perguntamos qual seria a versão minimalista do Teste de Turing que poderia ser criada. A questão era: quais são as palavras que as pessoas realmente diriam?". A pergunta foi a base da pesquisa que foi publicada na revista científica Journal of Experimental Social Psychology.
Baseado em mais de mil respostas de mil participantes diferentes, McCoy e seus colegas analisaram as palavras que eram mais comuns e chegaram a uma lista de “10 palavras mais populares nas respostas”: Amor (134 respostas); Compaixão (33); Humano (30); Por favor (25); Piedade (18); Empatia (17); Emoção (14); Robô (13); Humanidade (11) e Vivo (9). De acordo com McCoy, "O grau de convergência entre as pessoas foi impressionante. Eles podiam escolher qualquer palavra que quisessem de um dicionário de inglês padrão e, ainda assim, houve uma enorme convergência entre os indivíduos". Em seguida eles realizaram outro teste para saber como as pessoas reagiriam às palavras geradas no primeiro experimento. Eles agruparam as palavras mais populares em diversas combinações e solicitaram que um grupo de participantes determinasse qual das duas era mais provável de ser falada por um ser humano do que por um computador (robô) (Figura 2). Deste modo, a palavra mais sucedida foi “amor” e “cocô”.
Figura 2. Palavras relacionadas a emoções são pouco compreendidas por robôs. Foto: Getty Images.
Uma das explicações mais óbvias é que apesar da inteligência artificial estar avançada, os robôs ainda têm dificuldades em expressar humor e sarcasmo. Para expressar humor é exigido compreensão profunda do contexto e das relações culturais dentro de cada palavra. McCoy comenta sobre as perguntas e o teste, "É divertido levar essa questão a psicólogos conceituados, vê-los pensar muito e voltar horas depois animados para mudar sua resposta. Essa pergunta muito simples faz com que você reflita profundamente sobre o ser humano versus o computador e como eles se comunicam", acrescenta. Uma das palavras que eu gostei foi 'errar'… É inteligente."