Recentemente foi realizado o sequenciamento genético de uma ossada encontrada na Sibéria. Era uma adolescente que viveu há mais de 50.000 anos atrás e o mais interessante: era filha de um Neandertal e de um denisovano. Vamos explicar essa história: os neandertais, denisovanos e humanos modernos são espécies diferentes e nunca foi encontrado nenhum registro de filho de um casal misto (de uma espécie com outra espécie). No entanto, na semana passada um grupo de pesquisadores, liderada por Viviane Slon e Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig (Alemanha) publicou o sequenciamento genômico desses humanos (descrição de todos os genes que a espécie possui).
Eles usaram um pedaço do osso da jovem menina e concluíram que se tratava de uma híbrida (pais de espécies diferentes). Ou seja, sua mãe era neandertal e seu pai denisovano.
Richard Roberts, Vladimir Ulianov e Maxim Kozlikin na gruta de Denisova, onde foram achados os restos da jovem híbrida. Foto: IAET SB RAS, SERGEI ZELENSKY
O DNA dos pais foi sequenciado (descrito) e tudo indica que elas se separaram há 390.000 anos atrás. Porém, continuaram a copular e se reproduzir em casos pontuais onde as duas espécies ocorriam. De acordo com Juan Luis, diretor do sítio arqueológico espanhol de Atapuerca e membro do estudo, “Embora ainda não conheçamos a anatomia dos denisovanos [só foram achados fragmentos de ossos e dentes], acredito que, apesar de não serem iguais, anatomicamente não seriam muito diferentes. Os denisovanos seriam algo assim como a versão asiática dos neandertais”.
Com esse método foi possível entender que existiram relações sexuais entre as espécies do gênero humano que compartilharam a Terra por milhares de anos. A análise mostrou que o pai da adolescente tinha neandertais entre seus antepassados.
Outras relações entre humanos modernos e neandertais são registradas há pelo menos 100.000 anos. Isso resultou em, tirando os subsaarianos, termos o genoma DNA dos neandertais.
Já os denisovanos deixaram seus genes entre os povos da Ásia e Oceania. Após descobrirem essa relação entre a adolescente e seus pais, Vivian declara, “Nunca pensei que teríamos a sorte de encontrar um descendente direto dos dois grupos”. Já Svante comenta, “talvez não tivessem muitas oportunidades de se encontrar, quando o fizeram devem ter copulado frequentemente, muito mais do que se pensava”. Descobertas como essa nos mostram que o passado pode abrir portas para novas histórias.