Acabamos de falar no último artigo sobre “A formiga drácula” que o ser humano observa e copia a natureza de diferentes maneiras com o objetivo de melhorar as condições de vida dele mesmo no planeta. Hoje contaremos algo parecido, em 2016 um famoso designer americano (Liz Ciokajlo) recebeu um convite do Museu de Arte Moderna de Nova York para criar uma nova bota de astronauta com um visual parecido com a Missão Apollo. A bota original foi lançada em 1972 e foi chamada de Moon Boot. O designer pensou em um biomaterial como melhor opção (Figura 1). Ele pensou sobre a atual obsessão sobre Marte, o planeta vermelho e resolveu inclui-lo no projeto. De acordo com Liz, "Marte sempre foi um planeta onde você pode sonhar. É um lugar em que você pode repensar como viver na Terra." O resultado final chamou atenção da Agência Espacial Norte Americana (NASA) e Europeia (ESA). A bota tem o design alto, robusto e feminino. Ela pode ser fabricada durante as missões dentro da nave a partir de suor humano e esporos de fungos. Por isso se tornou ideal em viagens longas como uma ida a Marte.
Figura 1. Exemplar de botas feitas de micélio. Foto: George Ellshworth.
O material principal é o micélio, a parte estrutural de um fungo como se fosse a “raiz” dele (Figura 2). Ele forma um emaranhado de linhas brancas que forma uma estrutura rígida, quando estão unidas. Ele suporta mais pressão que o concreto sem quebrar, é isolante térmico, resistente a fogo e protege contra a radiação UV. Atualmente o micélio é usado na criação de couro, materiais de construção e embalagens diversas. Mas no espaço ele teria uma função arquitetônica. Conforme explica Liz, "Você conta com a capacidade das células se replicarem, criando assim mais material em pouco tempo". A ideia é usar o corpo humano como fonte do fungo. Usar a transpiração para “adubar” os fungos. Ao incubar o micélio em condições controladas de temperatura e umidade ele se torna mais fibroso. É assim que a NASA e a ESA querem usar o material em suas viagens espaciais. Pois ele é auto renovável.
Figura 2. Exemplo de micélios em crescimento no solo. Foto: Alamy.
A ESA já está testando a bota e os resultados parciais são animadores. A próximo sonho dos pesquisadores é usar o micélio com impressões 3D. A NASA também está estudando e considerando produzir na Terra uma espécie de cápsula flexível revestida de micélio e ativar o crescimento dos fungos somente em Marte. O que mais atrai os pesquisadores no micélio é a capacidade de determinados fungos produzirem melanina, biomolécula que protege os humanos da radiação solar. Se os experimentos dessas duas empresas forem bem-sucedidos, eles enviarão uma porção de esporos de fungos para o espaço para se replicarem e assim vários astronautas serão beneficiados por várias funções do micélio no espaço.