A maioria de nós já entrou em bibliotecas em vários lugares da cidade. Sabemos que elas guardam um grande número de livros e os livros guardam muitas informações relevantes para nós, seres humanos. Mas alguém já entrou em alguma biblioteca de morcegos? Parece estranho falando assim. No entanto, um grupo de pesquisadores brasileiros criou uma biblioteca online com vários ultrassons de 65 espécies de morcegos que ocorrem no Brasil. O trabalho foi publicado na revista científica Mammal Research (em breve estará disponível) e conta com um inventário de ultrassons que poderão ajudar a entender a diversidade e distribuição dessas espécies ao longo dos biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Pantanal e etc).
Morcego que se alimenta de frutos (Vampyressa thyone Thomas, 1909) Foto: Guilherme Garbino.
Inicialmente, a ideia surgiu em 2007 quando a pesquisadora Maria João da universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) durante seu doutorado, percebeu a escassez e necessidade de se conhecer os chamados de ecolocalização dos morcegos no Brasil e nos arredores.
Os morcegos se orientam por esse sistema que parece um “navegador de voo”. Eles emitem um ultrassom que ao tocar em algo (objeto) ele retorna ao morcego e ele consegue detectar possíveis obstáculos, presas, passagens em sua frente. De acordo com ela, "Desde então, comecei a compilação de informação com base em sons que obtive e em dados publicados ou disponíveis em bases online".
Esquema representando a ecolocalização em morcegos. Foto: autor desconhecido
Muitas pessoas acreditam que os morcegos são seres ruim. A história liga esses animais a personagens fictícios como Drácula e outros vampiros. Além disso, as pessos acham que eles são cegos, mas não são. No entanto, os morcegos são fundamentais para diferentes serviços dentro dos ecossistemas da Terra. Eles comem frutos e espalham sementes ajudando a replantar vários lugares, eles comem insetos e ajudam a controlar a população dos mesmos, eles se alimentam de néctar e automaticamente polinizam diversas espécies de plantas. Sem eles, nós humanos teríamos sérios problemas. Por isso, a biblioteca de ultrassons é importante. Para conhecer e preservar esses animais.
Nós humanos só conseguimos ouvir os ultrassons que os morcegos emitem quando esses sons são gravados em câmera lenta. É isso que o pesquisador Frederico Hintze, do laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) explica. O aparelho usado para gravar lentamente é semelhante ao que a câmera lenta usada em partidas de futebol faz com as imagens. De acordo com ele, "Dessa forma, as frequências do som baixam 10 vezes também. Isto é, se a frequência original é de 70 kHz, utilizando esta técnica ouviremos o som a 7 kHz." Além disso, "Os nossos colegas gravaram morcegos em estados como Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Tocantins e até na Guiana Francesa e Costa Rica", informa. "Todas as gravações foram feitas tanto em áreas urbanas como em locais protegidos”, comenta o pesquisador.
Confira abaixo um vídeo explicativo: