Quando pensamos em um animal amamentando seus filhotes pensamos em exemplos práticos como uma cadela e seus filhotinhos ou até mesmo nós, seres humanos, assim que nascemos somos amamentados por nossas mães. Essa característica (amamentar) é exclusiva do grupo dos mamíferos. Mas e outros grupos animais, apresentam mecanismo parecidos? Pesquisadores chineses afirmam que sim. Eles descobriram que uma espécie de aranha age de modo semelhante com seus filhotes. O estudo foi publicado na revista Science. Em reportagem exclusiva à BBC News, os pesquisadores contaram que acharam estranho e intrigante o comportamento da aranha saltadora Toxeus no Jardim Botânico Tropical de Xishuangbanna (Figura 1). Eles observaram que os filhotes ficavam muito próximos ao ninho da mãe, mesmo quando já maiores. De acordo com Chen, isso é muito incomum entre as aranhas saltadoras.
Figura 1. Espécime de aranha Toxeus em seu habitat natural. Foto: SAREFO/CC BY-SA 3.0.
Deste modo, Chen comenta, "Então, levantamos a hipótese de que a mãe poderia fornecer cuidados maternais duradouros. A questão, então, passou a ser: se elas fazem isso, como fazem? E por quanto tempo? A partir disso, eles retornaram até o local onde as aranhas vivam e começaram a observar e descobriram que os filhotes não deixavam o ninho até próximo a terceira semana de idade (Figura 2). De acordo com os pesquisadores, "Por outro lado, em todo esse tempo, a mãe nunca foi observada levando comida (como moscas de fruta) para o ninho. Isso causou certa confusão na cabeça dos pesquisadores, “qual seria a fonte de alimentação da prole?" Então Chen e sua equipe pensaram em três possibilidades: os filhotes se alimentavam por regurgitação da mãe, ingeriam ovos tróficos (ovos não fecundados) ou então tinham alimentação fecal. Mas os resultados posteriores negaram todas as três.
Figura 2. Mãe aranha Toxeus e seus filhotes em um ninho. Foto: Xishuangbanna Tropical Botanical Garden.
Após tudo isso, Chen e sua equipe pensaram em muitas possibilidades. Até que um dia ele notou que os filhotes aumentavam de tamanho justamente quando estavam conectados ao abdômen da mãe. Era algo parecido com a amamentação em mamíferos. Após isso, ele focou suas observações nesse fenômeno e notou que logo quando nascem, os filhotes ingerem gotículas do mesmo material que é depositado no ninho. Quando essa substância acaba no ninho, os filhotes o sugam diretamente na mãe pelo orifício usado quando ela deposita os ovos. De acordo com os pesquisadores, essa é a principal fonte de alimentação até os primeiros 40 dias de vida, quando os filhotes atingem a maturidade sexual. A substância foi levada ao laboratório e se parece muito com o leite: elevada quantidade de proteínas. Quando perguntado sobre o possível uso dessa substância em aplicação industrial Chen comenta, “Teoricamente, isto tudo é possível, mas acho que ainda estamos muito longe para discutir este assunto. Precisamos esperar até que todos os componentes do leite de aranha sejam claramente analisados. Talvez, algum dia, no futuro, possamos começar a ter indústrias de leite de aranha por meio de alguns métodos biotécnicos.”
