Todos nós sabemos que nossa pré-disposição genética, nosso hábito sedentário, nossa má alimentação são alguns dos vários fatores que podem nos causar o diabetes tipo 2 (quando o pâncreas não produz a quantidade de insulina suficiente).
No entanto, pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) realizaram o maior estudo do mundo sobre o assunto examinando 1,7 milhões de estadunidenses durante oito anos e ainda monitoraram o índice de massa corporal de todos os participantes do estudo. Os resultados foram relacionados com os dados de partículas de ar que foram coletados pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e pela Agência Espacial Americana (NASA). A partir disso eles chegaram a uma conclusão: a doença diabetes tipo 2 está relacionada com a elevadas emissões de dióxido de carbono (CO2).
Lanceta usada para controlar o diabetes. Foto: farmacêuticas.com.br
Os principais resultados da pesquisa, publicados na revista científica The Lancet Planetary Health (link do estudo: https://www.thelancet.com/journals/lanpla/article/PIIS2542-5196(18)30140-2/fulltext). Uma das informações do estudo mostra que de todos os casos de diabetes registrados no mundo no ano de 2016, 14% estavam estreitamente relacionados com partículas de poluentes na atmosfera. Logo, cerca de 3,2 milhões de pessoas podem ter desenvolvido diabetes tipo 2 por conta da elevada carga desses poluentes no ar. Além disso, no mesmo ano os EUA registraram mais 150 mil novos casos da doença. De acordo com o professor que chefiou o estudo, Ziyad Al Aly, "Nossa pesquisa mostra um vínculo significativo entre a poluição do ar e o diabetes em todo o mundo".
A relação entre a doença e a poluição do ar surgiu quando os pesquisadores analisaram uma partícula chamada PM2.5. Essas partículas são liberadas ao ar a partir de grandes fábricas, carros e caminhões ao redor de todo o mundo. Para piorar a situação, ela ainda carrega consigo uma elevada carga de metais tóxicos (metais pesados) e essa partícula penetra facilmente em nossos pulmões e em seguida para a corrente sanguínea. Ela percorre todo nosso corpo, por vários órgãos e pode causar graves inflamações. Inclusive no pâncreas, órgão que produz a insulina. De acordo com Ziyad Al Aly e demais autores do estudo, "A exposição a poluentes do ar pode levar a alterações significativas no sistema nervoso, estresse devido à oxidação, inflamação, estresse do retículo endoplasmático, morte celular programada e levar a alterações metabólicas na homeostase da glicose e insulina, incluindo intolerância à glicose e menor sensibilidade à insulina".
Poluição elevada em São Paulo no ano de 2018. Foto: Revista Veja.
Isso pode ser preocupante para o Brasil também. Pois é um país emergente que está em crescimento e desenvolvimento industrial (ainda). Ainda não existem tratamentos eficazes para a diminuição de poluentes em grandes centros urbanos como em São Paulo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo existem 420 milhões de pessoas com diabetes e boa parte é do tipo 2. No Brasil houve um crescimento de 61,8% nos casos de diabetes do tipo 1 e 2, de acordo com o Ministério da Saúde. A perspectiva é de que a emissão de CO2 e outros poluentes diminuam no Brasil e/ou surjam novas ferramentas para evitar elevados níveis de poluição.